Sexta feira 13, dia mundial da superstição, e dia do lançamento de um trabalho que eu espero pra ver desde o final do ano passado: A Trupe Delirante no Circo Voador, que é o mais recente registro de um show da Pitty em DVD.
Foi a primera vez que fui chamado pra fazer apenas vídeo pra eles. As fotos ficaram a cargo de Caroline Bittencourt.
A direção deste DVD fcou na mão do amigo Ricardo Spencer, também conhecido por fazer vários dos clipes da banda.
Spencer foi sagaz. Recrutou uma galera que trabalha com cameras DSLR – as câmeras fotográficas que fazem vídeos em alta definição – e resolveu fazer o primeiro grande registro ao vivo neste formato.
Se não me engano, no total ele usou 10 câmeras: 7 eram DSLR em mãos de fotógrafos que se meteram no vídeo.
Não vou me recordar do nome de todos, mas do meio campo pro ataque, estavam César Ovalle e Raul Machado no palco, Rafael Kent e Geninho Simonetti nos praticáveis, e eu… NO MEIO DA GALERA!
Fiquei sabendo que a decisão de me jogarem no olho do furacão veio de Rafael Ramos e Pitty. “O Tavinho é do pogo!”. Tudo bem que a última vez que me aventurei a querer chegar na grade de algum show foi justamente pra fotografar a gravação do {Des}concerto de Rock, o outro DVD ao vivo da Pitty, que foi meu primeiro trabalho com eles (em 2007!!!). Antes disso, deve ter sido os shows do Pantera no Olympia em alguma data dos anos 90.
Grande parte da equipe é daqui de São Paulo, e fomos todos – banda, roadies, técnicos, câmeras, direção, produção, convidados – no mesmo ônibus fretado.
Foi um festão! Aí eu fotografei!!
Já no Rio, com pouco tempo de descanso – principalmente porque dividi quarto com César Ovalle, que não parou de falar um minuto – fizemos a última reunião geral. Botei minha roupa de guerra e fomos pro Circo Voador.
Lá até tentei me orientar pra ficar numa posição estratégica na frente do palco, pegando pontos da casa como referência. Mas sabia que seria impossível me manter no mesmo lugar com os fãs da banda ali.
Usei uma lente 16-35mm com a Canon 5D do Spencer. Por ser full frame, foi a melhor opção pra captar imagens mais abertas da galera. Minha 7D ficou na mão de Rafael Kent.
Casa cheia já uma hora antes do show começar, eu me agilizei pra pegar meu lugar, que seria disputado com alguns fãs fervorosos.
Fãs de Pitty que ocupam o gargalo são aquele que realmente querem ser vistos pela banda e, se possível, interagir com eles. E não poupam esforços pra isso.
Logo começou o tradiconal empurra empurra, o jogo de ver quem deixa o ombro mais a frente do outro, o carinha que se faz de “bem louco” pra justificar o espaço conquistado na folga. Tirando paciência de pedra, tentei entender a situação lembrando a época em que eu me enfiava ali pra ver de perto as bandas que eu curtia. Como aguentava?
Minha tática foi interagir com o pessoal em volta. Expliquei que era pro DVD, pra eles cantarem que eu ia filmar, pra não zoarem o barraco comigo… fiz amizade. Mais tarde vim descobrir que eram de um fã clube. Eles me acharam no twitter e deixaram recados. Fofos, né?
Apagam-se as luzes, aperto REC e espero a movimentação. Praticamente no breu, não sabia se apontava a câmera pro palco ou pra galera. A imagem, com essa dúvida, acabou virando os primeiros 20 segundo do começo do DVD.
Entra a bateria com a introdução de “8 ou 80”. Mesmo sendo uma música de andamento moderado, a galera pulava com toda energia. E não teve jeito: também pulei.
Com o braço esticado, eu mal percebia se estava focando o assunto ou não. As duas primeras músicas foram assim, imagens caóticas e perdidas: do jeito que o diretor pediu.
Foi aí que comecei a sentir dor no braço. E ainda era a SEGUNDA música!
Achei que não fosse aguentar. A tática foi, ora ou outra, apoiar a câmera na cabeça, apontando pra um ponto cego, pra descansar um dos dois braços. Funcionou.
No final do show, eu estava exausto e completamente molhado. Mas aguentei com louvor o desafio. Sentei num degrau pra tomar fôlego enquanto via a casa se esvaziando rápido. No chão várias garrafas de água amassadas, bexigas furadas, fim de festa. Me fez lembrar de uma foto feita no final de um show do Pearl Jam que vi num livro. Inspirado nisso, fiz um vídeo passeando com a câmera bem rente ao chão, partindo do palco.
Quem me viu naquela posição ridícula arrastando uma câmera pelo chão sujo não deve ter entendido nada.
A cena foi usada no final do DVD.
Joguei fora a camiseta fedida e subi pra festa no camarim. Quando fui tomar uma, a dor muscular não deixava que a lata chegasse até a minha boca. Mas tratava-se de uma dor prazerosa.
Todos vieram me dizer que me viram na plateia. E eu achando que tinha passado desapercebido no meio de tantas cabeças. Sim, me zoaram, óbvio! Pimenta nos olhos dos outros…
Considero este o melhor trabalho que participei. Não só por causa do diferencial de gravar em condições tão adversas, mas de fazer parte de uma equipe competente, de pessoas realmente talentosas que juntou forças pra registrar o show de uma banda espetacular ao vivo.
Quem já viu estes caras no palco, sabe.
Senão, o DVD taí pra não deixar mentir.
Assista os vídeos aqui.