Meu contato com Moda na carreira fotográfica foi pífio.
Nunca tive grande interesse nessa área por achar que pra se sair bem que tem que saber um básico sobre o assunto senão você vira apenas mais um.
Essa ignorância fashionista me fez ser escolhido pra cobrir a Semana de Moda pra marca de tecidos Kalimo, um dos patrocinadores do Fashion Rio e São Paulo Fashion Week, os maiores eventos de moda da América Latina. Uou.
Quem fez essa loucura de me jogar no meio dos leões foi a Gabriela Pacheco, da estilosa agência Colletivo, que sugeriu uma cobertura diferente pro patrocinador. Achou que seria de bom gosto deixar que um fotógrafo que não é de moda (ou da moda) mostrar como seus produtos serão tendência do verão 2012. Um trabalho autoral mesmo.
Aproveitei essa fase de namoro sério com o analógico e sugeri de fazer algumas imagens com filme. Aprovado, desde que fossem um complemento das fotos que faria com o digital. Então eu estaria com duas câmeras ao mesmo tempo.
E lá fui eu pro desconhecido mundo da moda no Brasil.
As primeiras coberturas foram feitas em dois bate e voltas no Rio de Janeiro, pra cobrir as coleções da Ágatha, RGroove e a carioquíssima Cantão. Muito prazer.
O evento foi no Píer Mauá. Esperas na fila pra conseguir entrar no backstage, onde modelos se maquiam e se vestem antes dos desfiles.
Lá dentro achei o ambiente mais escuro do que imaginava pra fotografar. Não queria usar o flash (embora algumas ocasiões tive que usar sim) já que uma abertura ƒ2.8 com ISO 800 dava conta. A boa luz vinha dos espelhos das penteadeiras na sala de maquiagem, quase sempre lotada por outros fotógrafos, repórteres, equipes de tv que faziam links ao vivo, modelos e organizadores.
Saí clicando qualquer coisa só pra disfarçar que estava completamente perdido naquele universo. Bom foi encontrar alguns maquiadores que trabalharam na época que fiz tv, colegas fotógrafos que só conhecia de twitter, e outras pessoas que me olhavam com os olhos meio fechados e apontavam “te conheço de algum lugar”. Isso sempre acontece comigo.
Também conheci um cabeludo que chegou mostrando uma foto que ele fez minha, fotografando. Disse que ia fazer registro de todos os fotógrafos que estavam lá. O nome dele é Otavio.
Vez ou outra entrava na sala alguém que deixava a galera mais alvoroçada. Se era a modelo da vez, estilista fodão, atriz global ou ex-BBB eu não fazia a menor ideia. Tudo bem porque a minha função não era fazer o social, graças a Jah!
Após a sessão maquiagem rolava na sala ao lado o chamado “fila”, que era o momento pré desfile onde todos registravam as modelos prontas minutos antes de pisarem na passarela.
Nas duas situações usei as duas câmeras. Como ainda não me adaptei com o fotômetro da Nikon F2 com pouca luz, fotometrava com a câmera digital e jogava a mesma configuração na analógica. Como se tratava de fazer imagens de tecido e suas cores, usei filme cromo. Existe esse truque chamado “processo cruzado” que você pode usar com este filme na hora da revelação. Ele que deu esse efeito nas cores.
Outro filme que usei foi o Velvia, que puxa as cores pro magenta pra fazer umas imagens da cidade maravilha. Nunca tinha usado antes e resolvi experimentar em locais turísticos sob o sol carioca. Em vão. A correria só permitiu que fizesse poucos cliques na praia de Ipanema, Posto 9 pra ser mais exato. Com tempo nublado e chuvoso, a brincadeira terminou cedo.
Mas o pessoal da Kalimo curtiu.
Já a Semana de Moda aqui em São Paulo, a ba-da-la-da SPFW foi um pouco diferente. A Neon, uma das duas marcas que eu tinha que cobrir, fez seu desfile no MuBe, onde montaram a maior passarela do evento, mas que tinha o backstage mais apertado que o camarim do Outs.
Foi ótimo usar aquele processo com o filme cromo numa marca chamada NEON, mas o camarim improvisado no museu não deixou o ambiente com tanta cara de… moda. Foi um começo difícil e apertado. Era chegar mais perto de qualquer roupa pendurada na arara, ouvi-se a voz fanha e melosa: “Por favor não coloquem os dedinhos na roupa? Obrigada!”. Nem relei nessa porra.
Uma das figuras deste universo é um… “cara”(?) de 2 metros de altura chamado Dudu Bertholini, um dos estilistas da Neon. Ele chega no ambiente sem precisar ser anunciado. Vira atração. E tá na cara que ele adora.
Mesmo com tanto assédio dos fotógrafos e jornalistas que não deixam o… “cara”? um minuto sem sossego, foi o profissional que se mostrou com mais bom senso de tudo que acontece por ali. Estava prestes a fazer um desfile fora dos padrões e ainda assim se organizava pra atender todo mundo que solicitava ele. Botou os fotógrafos em ordem e mostrou cada peça da coleção. E ainda posava pra foto.
A última fase desta cobertura foi na Bienal, onde acontece grande maioria dos desfiles da SPFW. Logo na entrada da Bienal você dá de cara com uma exposição gigante da dupla Inez van Lamsweerde e Vinoodh Matadin, fotógrafos de moda. É bem louco! Vale a pena ir até lá e conferir. Fica na Bienal até setembro.
Apesar de mais cheia, a SPFW me pareceu mais organizada comparado ao Fashion Rio. O espaço é bem maior. Desfrutei dos quitutes e bebidas que foram servidos em bandejas na sala de imprensa. Nunca vi tamanha preocupação com estes profissionais.
Fui pro backstage da marca Amapô, onde 90% dos modelos eram os mesmos que vi no Rio de Janeiro. Na sala, o mesmo esquema: cheio de gente, imprensa, link ao vivo, mas desta vez mais limitado. Tinha um clima tenso no ar que eu não percebi do que se tratava, então procurei não atrapalhar muito. Ainda assim consegui alguns retratos.
Não fiz fotos em nenhum desfile e não sei se agradeço ou lamento por isso. Porque todos os fotógrafos comentam que não gostam de se acotovelar pra clicar no pit. Eles fazem fila uma hora antes do desfile começar pra garantir um bom lugar na frente da passarela. Flashes complicados, lentes enormes, tripés e monopés. Alguns carregam escadinhas. Parece meio caótico, porém pode ser legal passar por essa experiência, mesmo achando que também não iria curtir muito. Posso tentar na próxima temporada, já que o trabalho só termina com a cobertura da coleção inverno 2012.
Só me preocupou mesmo o resultado com estes filmes que demoravam um dia pra serem revelados. Mas deu tudo certo no final, cliente feliz, fotógrafo mais ainda.
Toda a cobertura que fiz pra Kalimo, nesse debut na Semana de Moda, renderam DOZE álbuns que podem ser vistos clicando aqui.