Arquivo de outubro, 2010

O que me deu na cabeça pra entrar nessa área de fotografia musical?

Desde que escolhi cursar Rádio e TV na faculdade, mantive a música como norte na vida. Já tinha aprendido tocar guitarra, ia a todos os poucos shows de rock que aparecia na cidade. Meu sonho era trabalhar no Olympia – clássica casa de espetáculos de São Paulo – achando que ia ver todas as bandas que viessem pra cá.

Também era sonho trabalhar na Mtv. Putz, quanta coisa a gente viu “nascer” dali: o grunge, o Raimundos, o Planet Hemp, Chico Science… tinha o Gastão que apresentava o Gás Total, o reverendo Fábio Massari, o cara que mais sabia de música no mundo, o Thunderbird fase loucão, Sabrina que eu pagava mó pau. “Porra, estes caras da Mtv devem ser o máximo! Achei minha turma, quero entrar lá!!” Meu amigo, nos começo dos anos 90, época que não existia internet em casa, a Mtv era o supra sumo da comunicação juvenil. Era a revista Bizz em movimento! Ela ajudou adolescentes a serem mais rebeldes do que a própria natureza da idade.

O sonho se realizou em 2002, quando eu já tinha 25 anos. Fui contratado pra ser roteirista. Achei que fosse me aposentar lá! Adorava.

Foi aí que uma amiga de lá me chamou pra fazer  um curso básico de fotografia junto com ela. Foi o empurrão que eu precisava pra aprender a clicar shows, iguais ao s livros de fotos que eu andava comprando. Acabou que ela nem levou o curso tão a sério. Eu sim.

Paralelo ao trabalho, comecei a fotografar os shows que a Mtv patrocinava. O primeiro deles foi o Mtv Apresenta Dead Fish, no Hangar 110. Foi foda, tive que me meter no meio do público pra chegar perto do palco. Fiquei todo suado, aguentando empurra empurra, pogos e moshes o tempo todo. Mandei revelar os três rolos de filme e as fotos ficaram uma bosta. Grande parte delas completamente fora de foco. O negócio exigia treino mesmo, não imaginava que pudesse ser tão difícil. Então logo me inscrevi no curso de fotografia de espetáculos. Tive a sorte de ter um professor que clicava no Bourbon Street e amava blues e jazz. Esqueci o nome dele… mas este cara ensinou o que era ter paixão pelo tema.

Voltei mais algumas vezes no Hangar pra fotografar. A casa tem um palco alto e luz precária até hoje. Pelo menos já tinha comprado minha primeira câmera digital.

Logo outro amigo do trabalho, Fabrizio Martinelli (hoje guitarrista do WOVE) sugeriu que eu acompanhasse os shows da banda que ele estava tocando naquela época, o Hateen – talvez a mais famosa no cenário independente de São Paulo. Bora!

Não demorou, a banda assinou contrato com a gravaodra do produtor Rick Bonadio. Ainda não tinha experiência suficiente pra fazer a foto da capa, mas pra cair na estrada desse brasilzão era de boa. Como cada show era num lugar distinto, com as mais variadas condições de luz e espaço, as viagens com o Hateen foi meu laboratório de palco.

Foi nessa época que eu conheci o tal Fotolog. Tinha muita preguiça de redes sociais, só fiz orkut na vida pra xavecar uma mina e nem isso deu certo (mas depois deu!). Então me liguei que, mesmo achando que não fazia boas fotos, eu deveria ter o meu Fotolog. Abri uma conta e com o passar do tempo, foram aparecendo outros fotógrafos de shows. A maioria era péssimo, muito flash. Até aí eu já tinha investido em pelo menos uma lente 24-70mm  ƒ2.8, básico pra quem quer fotografar em situações de pouca luz.

Fiquei na Mtv por mais de 3 anos, e com o tempo o canal foi desjustificando o M do nome. Então um dia fui demitido. Assim, com uma desculpa besta, sem sequer prever que isso podia acontecer. Porque “demissão” na Mtv não existia. Depois descobri que fui o primeiro de muitos, e mais do que isso, o bem que essa demissão pôde me trazer.

No dia seguinte já me considerei fotógrafo.  Se quisesse continuar a ter a música comigo, ia ter que me arriscar na área.

Mal sabia eu onde estava me metendo…

A primeira surpresa foi descobrir que existem MUITOS fotógrafos em todas as áreas e temas. Estava entrando num mercado competitivo. Dei a sorte de ser lembrado pelos ex companheiros da emissora, que me indicavam pra todo lugar. Devagarinho fui tirando um troco aqui e ali. Com os contatos da gravadora do Bonadio, fiz o meu primeiro grande projeto, que foi clicar a arte pro DVD Mtv ao vivo CPM22. Golaço!

Ainda assim eu exigia demais de mim mesmo. Meu trabalho tinha que se destacar, senão ia ser apenas mais um nesse meio.

Apesar de ter uma conta no Flickr, o Fotolog foi uma boa maneira de ter contato com a galera. Tinha gente que escrevia dizendo que minhas fotos eram demais, que eu inspirava alguns a se tornar fotógrafo também. Tipo… Oi? Era bem legal, nunca tinha ouvido tais coisas em nada que fiz na vida. Por isso, aceitava os elogios meio desconfiado.

Então fui percebendo que o mercado se encheu de “mais uns”. De repente virou a coisa mais legal do mundo ser fotógrafo de shows. E era mesmo, como ainda é. Porém, o universo das redes sociais enganam muito. Foi aí que começou um lance de ego no qual eu nunca entendi ou pensei em fazer parte: pra mim fotógrafo bom era fotógrafo invisível, ou seja, o trabalho à frente da própria imagem pessoal.

Acho que o ego tem a ver com estar e vivenciar o mundo artístico. De repente era fotógrafo se vestindo e agindo como rockstar. Eles (e elas!) apontando pro próprio umbigo e declarando “sou foda” , com imagens que nem eram lá estas coisas. Mas quando não se tem noção do assunto, a fotografia pode sim encantar erroneamente. Mo meio musical, você se torna referência só pelo fato de fotografar o ídolo de alguém. Se o ídolo é juvenil então… potencialize ao cubo.

Com tantos fotógrafos “de show” por aí, a demanda aumentou. Deu a impressão de que cada um agarrou uma banda pra viajar e ganhar o título de Fotógrafo Oficial. Soa bonito, só que os fotógrafos oficiais não cobravam pra estar com estas bandas. Até concordo que, se neguinho tá ali passando por uma experiência, firmeza. Mas isso passou a acontecer com bandas que já tinham recentes contratos, que podiam bancar. Convenhamos, que luxo destes artistas ter alguém registrando todos os rolês por aí. Porém, luxo custa caro. Ou melhor, deveria custar. A coisa de ter um fotógrafo em toda banda fez com que até as próprias bandas perdessem a noção do que o fotógrafo está fazendo ali com eles.  A maioria molecada, que ainda mora com pai e mãe, não tem a preocupação de pagar contas, não tem tanta responsabilidade. Existe uma ilusão porque o fotógrafo também cai junto na balada. Ele é da equipe e deve ficar colado com o artista. Então ele tem acesso fácil pra encher a cara, tomar drogas, pegar menininhas. Não há como negar que é uma vida que seduz. Mas é meio gozar com o pau dos outros.

Este post é porque recentemente eu me vi diante destas situações depois que a ficha caiu. Não ter o seu trabalho valorizado – ou talvez não entendido – por aqueles que convive com você é desagradável. Ou saber que você não consegue aquela “ajuda de custo” a mais porque o que fulano cobra é mais baixo. Ah, e tem o sicrano, que faz de graça.

Aí fudeu geral. Se o próprio fotógrafo não se valoriza, o que será da área? Aí como você vai explicar pras bandas que tá todo mundo errado? E será que essa galera tá mesmo a fim entender?

Mesmo ignorando o que os fulanos andam fazendo, cai no meu ouvido uma picuínha ou outra entre os colegas de profissão. Uma pataquada que um cidadão fez, tudo em nome do… NOME! Gente que gosta mais da própria pessoa do que da fotografia. Um provoca o outro pela internet, acham pêlo em ovo e se doem por qualquer razão. “Xinga muito no Twitter!” E pior que isso, não aceita uma crítica negativa.

É… gente que vai longe!

Hoje tenho 33 anos e me cansa saber destas brigas de ego adolecente, pessoas que são mais inseguras do que eu. Tive a música do meu lado desde a primeira vez que saí pra fotografar sozinho e pretendo nunca parar. No entanto, quero deixar de lado este limitado título de Fotógrafo de Shows, ou Fotógrafo de Bandas, porque além de acreditar que posso ir além e me apaixonar por outros temas, anda queimando o filme. Fico com vergonha dos fotógrafos mais experiêntes que respeito e acompanhei durate minha aprendizagem. Penso que eles me consideram muleque igual. Fora que já deixei de pegar trabalhos – dos bons! – por ser associado a essa turminha.

Ainda é da hora escutar de alguém que meu trabalho inspira outros a entrar no mundo encantado da fotografia. Mas pense bem… tem CERTEZA de que é isso que você quer?

Prefácio

Publicado: 10/19/2010 em Uncategorized

Demorou mais de 4 anos pra eu finalmente começar um blog mais pessoal pra falar das minhas experiências como fotógrafo profissional.

Às vezes acho que textos e palavras não são o meu forte, tanto que mal sei o que dizer no primeiro post daqui.

Mesmo achando que os primeiros visitantes desta página são amigos, devo começar me apresentando, certo?

Nasci numa manhã de abril de 1977 em São Paulo. Fui batizado com o nome de Otavio Zocoler de Sousa e cresci num bairro de periferia da zona leste.

Me formei em Rádio e TV depois de prestar um único vestibular quando mal sabia se ia conseguir terminar o colegial. Estagiei na área até ficar sem emprego por meses. Então em 2001 fiz a mochila e com as economias do que era pra ter sido o meu primeiro carro, paguei um curso de um mês em Londres. Sem expectativas de trabalho no Brasil e no auge dos meus 24 anos, resolvi morar lá. Trabalhei forte como serviçal e juntava o suficiente pra assistir a vários festivais de música e conhecer parte da Europa.  Durou um ano e foi o divisor de águas da vida. Lá que começou o interesse pela fotografia, especialmente a musical.

De volta, arrumei emprego na Mtv, meu último trabalho de carteira assinada, onde fiquei por mais de 3 anos fazendo todo tipo de coisa pra colocar um programa de televisão no ar. Em paralelo fiz um curso básico de fotografia e comprei a primeira câmera analógica. Depois veio o curso de Fotografia de Espetáculos junto com a primera digital. Logo comecei a viajar com o Hateen, banda conceituada no cenário paulistano e que, na época, foi recém contratada por uma grande gravadora. As viagens se tornaram meu laboratório de palco.

Saí da Mtv em fevereiro de 2006 e no dia seguinte sabia que a fotografia ia tomar o lugar da televisão.

Três meses na nova profissão fiz a primeira capa de DVD no projeto Mtv ao Vivo CPM 22. Incrível. Me especializei em fotografia de palco e logo me tornei colaborador de revistas e sites.

A partir daí, investi em mais equipamentos e continuei com a vida na estrada, na música, e no que mais aparecesse pra ajudar a pagar as contas. Somo nesse “currículo” trabalhos para as gravadoras Arsenal Music, Deck Disc, Trama, projetos dos DVDs Pitty ({Des}concerto de Rock e Chiaroscope), Mtv Apresenta Matanza, cobri festivais brasileiros e europeus também, além de fazer todo tipo de trabalho corporativo nada relacionado ao meio musical.

Realizei 4 tipos de exposições – pequenas – e passei a fotografar algumas casas noturnas da cidade.

Tenho trabalhos publicados nas revistas Rolling Stone, DJ Mag, Tribo Skate, na extinta Bizz e vários sites que falam de cultura geral. Atualmente continuo a colaborar com algumas destas publicações e acompanho há 2 anos a turnê Cidade Cinza do CPM 22, onde me levaram pra sua primeira turnê européia em dezembro de 2009.

Também faço parte de um coletivo de fotógrafos/videomakers chamado BlackBox.

Ao longo dos próximos posts espero contar com detalhes cada uma destas experiências, além das que andam acontecendo agora. Ou seja, coisas mais interessantes de ler!

Por enquanto fica aí só a introdução.

Até mais!